Jonny Salles

'Com amor, Victor' e a democratização dos finais felizes

A nova série do serviço de streaming  HULU ainda não está oficialmente no Brasil. Foto: Divulgação

Em 2018 chegava nos cinemas o filme 'Com Amor, Simon', adaptação do livro 'Simon vs a agenda homo sapiens', escrito por Becky Albertalli. O livro e o filme contavam a história de Simon, (logicamente) um adolescente que buscava entender mais plenamente a sua sexualidade e começa a se corresponder anonimamente com outra pessoa que possui os mesmos dilemas. O filme teen logo caiu nas graças dos espectadores, se tornando um dos melhores do gênero por combinar a autodescoberta da orientação sexual com a fofura típica do gênero comédia romântica.

Com o sucesso de “Com Amor, Simon”, lógico que viriam mais produções do gênero, como é o caso de “Com Amor, Victor”, a nova série do serviço de streaming  HULU (que infelizmente ainda não está oficialmente presente no Brasil), na qual é narrada a história de um adolescente que se muda para a cidade de Simon (do filme de 2018) e também deve encarar seus dilemas. As duas produções tinham tudo para ser apenas uma cópia uma da outra, mas “Com Amor, Victor” consegue destrinchar em seus dez episódios não somente a autoaceitação, mas também a representatividade de uma família latina nos Estados Unidos, a imperfeição dos pais e a cobrança constante por uma certeza, mesmo na fase da adolescência.

Trama faz sucesso com enredo leve e ingênuo sobre a vivência LGBTQI+. Foto: Divulgação
Trama faz sucesso com enredo leve e ingênuo sobre a vivência LGBTQI+. Foto: Divulgação

Tais produções LGBTQI+  possuem uma importância ímpar, uma vez que, em muitos casos, a sexualidade não é um assunto debatido nas famílias, sendo jogado sempre para debaixo do tapete ou até mesmo sufocado, tornando essas séries e filmes o único ponto de referência que os jovens e adolescentes podem ter sobre o tema. Daí o motivo pelos quais, esses filmes e séries devem ser minimamente saudáveis, pois trazem uma responsabilidade implícita de ajudar aqueles que não possuem nenhuma espécie de guia.

'Com Amor, Simon' e 'Com Amor, Victor' fazem sucesso por trazerem em seu enredo uma trama leve e ingênua sobre a vivência LGBTQI+, diferente de outras produções com carga dramática intensa e que, quase sempre, terminam com a infelicidade e morte de um dos protagonistas, como se a vida de uma pessoa LGBTQI+ fosse destinada apenas a esses caminhos de dor e sofrimento. Sei que a homofobia existe e é grande, mas há uma problemática quando produções que falam sobre a diversidade apontam apenas um futuro fúnebre, enquanto a maioria dos filmes, séries e romances tradicionalmente heterossexuais mostram um final feliz.

A produção e incentivo de obras nesse estilo e com o foco na diversidade, acabam por trazer uma democratização dos “felizes para sempre”, mostrando para todos, que mesmo com a existência das inúmeras dificuldades, há também, acima delas um amor para se viver e um eu para se descobrir completamente.

Para uma análise mais completa da série, tem um vídeo no meu canal falando sobre ela, clique aqui e confira!

Jonny Salles é professor formado em Letras (Português - Literaturas) pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e aficionado por mundo nerd que acompanha, debate e vivencia, seja numa roda de amigos ou pelo seu canal Geek Barba

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